A arte de escutar os sinais: axiomas para compreender a doença
- Fernanda Mendes
- 29 de ago.
- 3 min de leitura
Na filosofia e nas ciências, um axioma é aquilo que não precisa ser provado para existir: um princípio evidente em si mesmo, que sustenta tudo o que se constrói a partir dele. Quando transportamos essa ideia para o campo da saúde integral, entendemos que a doença não aparece por acaso, nem como algo descolado do todo da vida. Ao contrário, ela é sempre consequência de leis já inscritas na natureza do ser, leis que governam os ritmos do corpo, da mente e da energia vital.
Por isso, uma vez instaurada, a doença segue um curso previsível, obedecendo a etapas e manifestações que podem ser reconhecidas e, em certa medida, antecipadas. Essa compreensão nos liberta da visão fragmentada que enxerga a enfermidade apenas como algo a ser combatido, e nos convida a perceber a doença como linguagem de um desequilíbrio mais profundo.
Um dos Axiomas das Terapias Energéticas nos recorda:
"O desequilíbrio energético é sempre a raiz primeira de qualquer manifestação física de doença. Ele se revela por meio de sinais e sintomas bem definidos, cujo reconhecimento é fundamental para que o tratamento seja eficaz e, sobretudo, para que a prevenção seja possível.”
Esse axioma nos ensina que antes de se manifestar no corpo físico, o desequilíbrio já percorreu os campos sutis, já interrompeu o fluxo de energia em algum ponto do ser. A doença visível é apenas a última etapa de um processo que começou muito antes.
Por exemplo, muitas vezes a insônia não começa como problema do sono, mas como excesso de energia mental acumulada durante o dia, quando não damos espaço para o repouso interior. Uma gastrite pode ter como raiz um padrão constante de preocupação ou de raiva reprimida, que primeiro aquece o plexo solar energeticamente, antes de inflamar o estômago. Já a tristeza persistente, quando não acolhida, pode se cristalizar no pulmão, enfraquecendo não apenas a respiração, mas também a capacidade de trocar e receber da vida.
Outro princípio fundamental nos lembra que:
“O ser humano é um organismo de polaridades em constante alternância. Assim como tudo no universo, vive o ritmo entre expansão e contração, yang e yin, positivo e negativo. Quando essa dança ocorre em harmonia, gera vibração, movimento e transformação contínua, em outras palavras, gera a própria vida.”
Esse ensinamento ecoa o que as tradições antigas já sabiam: a vida é movimento, é respiração entre opostos, é ritmo que pulsa no coração, no ciclo do dia e da noite, nas marés, no nascer e morrer das coisas. Quando aceitamos e nutrimos esse fluxo, a vida se renova. Mas quando o interrompemos, por rigidez, medo, repressão de emoções ou excesso de estímulos, abrimos espaço para a cristalização, que mais cedo ou mais tarde se manifesta como doença.
Pense, por exemplo, no ritmo da respiração: inspirar é expansão, expirar é entrega. Se respiramos de forma encurtada, apenas no alto do peito, vivemos mais próximos da tensão do yang, da ação e da ansiedade. Se respiramos profunda e longamente, permitimos que o yin nos acolha, trazendo repouso e clareza. Essa alternância é a própria chave da vitalidade.
Assim, compreender a lógica evolutiva da doença não significa apenas entender seus sintomas, mas reconhecer que ela faz parte de um processo maior de transformação. A enfermidade pode ser vista como um convite: um chamado para reorganizar o corpo, ressignificar a mente, ampliar a consciência e realinhar o fluxo energético com a ordem da vida.
A verdadeira medicina, como ensina o Nei Jing, não é apenas aquela que cura, mas a que previne. E prevenir não significa controlar o inevitável, mas sim viver em harmonia com as leis que regem a vida, cuidar do corpo antes que ele grite, cultivar presença antes que a mente se fragmente, nutrir o coração antes que ele se feche.
É nesse ponto que práticas como o yoga, a meditação, o pranayama e a alimentação consciente se tornam tão preciosas. Uma sequência de posturas que fortalece o sistema nervoso pode evitar que a ansiedade se transforme em algo crônico. Exercícios respiratórios regulares podem impedir que a tensão se acumule a ponto de somatizar em enxaquecas. Uma rotina de silêncio interior pode prevenir que a mente dispersa se torne insônia.
A doença, portanto, não é apenas ruptura, mas também oportunidade. Oportunidade de ver aquilo que estava oculto, de perceber onde a energia parou de fluir, de escutar o que precisa ser transformado. Ao acolher essa visão, deixamos de lutar contra os sintomas e passamos a caminhar junto com a inteligência do corpo, lembrando que toda vida pulsa em busca de equilíbrio e que cada processo, por mais doloroso, pode ser também um portal para o renascimento.
Com amor, Fernanda.




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