O que resta quando solto o que carrego
- Fernanda Mendes
- 15 de nov.
- 2 min de leitura
Quantas vezes você percebeu que está repetindo a mesma história? Falando sobre os mesmos desafios, as mesmas conquistas ou até os mesmos fracassos?
Talvez exista algo em você insistindo em permanecer nesse ciclo. E está na hora de mudar de assunto.
No yoga, aprendemos que o posicionamento do corpo reflete o posicionamento da mente. Quando ficamos presos a uma história ou a um problema, nossa energia fica travada. Cada repetição, cada revivência de um episódio antigo, mantém partes de nós carregando o que deveria ter sido soltado há muito tempo.
Dependência emocional se manifesta exatamente aqui: quando o que o outro faz ou deixa de fazer interfere diretamente no que você faz ou deixa de fazer. Mas vai além das pessoas, podemos nos tornar dependentes de problemas, doenças ou situações, mantendo-as como se fossem muletas invisíveis. E a questão é que, muitas vezes, contamos a mesma história como se isso nos mantivesse vivos. Já conheceu alguém assim? Que muda de roupa, mas não muda a história.
Conheço pessoas que carregaram traumas profundos e encontraram no ato de escrever, de falar, de compartilhar sua história uma forma de sobreviver. Elas passam anos revisitando aquela dor, repetindo a história centenas de vezes, usando a experiência como inspiração e também como proteção. E isso nos ensina algo essencial: todo problema tem uma utilidade.
Às vezes, ele continua existindo não porque você não tem sorte, ou nasceu para sofrer, mas porque cumpre uma função em sua vida. Pode ser um trauma, uma condição de saúde, uma dificuldade que te protege, que justifica escolhas, ou simplesmente mantém você vivo enquanto aprende o que precisava aprender. E tudo bem, não é fraqueza nem derrota. É o reconhecimento de que cada um de nós tem seus caminhos de cura e maneiras de se manter inteiro, mesmo quando o mundo parece exigir mais do que conseguimos dar.
A pergunta que você precisa se fazer é simples, mas poderosa: esse problema ainda existe ou eu apenas me acostumei com ele? E mais: o que mudaria na minha vida se eu mudasse de assunto agora?
Um treino diário que faço é olhar para o que estou “passando” sem me identificar completamente com a situação. Tento me reconhecer no que estou “tentando”, com atenção e cuidado, e aos poucos transformar, soltar ou mudar o que precisa ser mudado. É um jeito simples de me reconectar com meu próprio ritmo e criar espaço para novas escolhas.
Para hoje, experimente olhar para frente, sentir o corpo presente e se abrir para novos caminhos. Nem sempre um caminho vem pronto ou formatado, e isso é um presente: é nele que treinamos o olhar, aprendemos a discernir e a escolher. Nem todo caminho será perfeito, mas todo caminho é feito para ser trilhado. É nesse espaço que você pode descobrir e experimentar a liberdade de criar sua própria história, com leveza, coragem e autenticidade.
Uma vez, um amigo que é monge me disse: “Olhar para o horizonte ajuda a treinar o olhar e tragar o ego com amorosidade.” Gosto de lembrar disso sempre, é uma maneira de caminhar pelo mundo com presença, clareza e carinho por mim mesma.
com amor,
Fernanda.




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