Yoga, TOC e o corpo como lugar de liberdade
- Fernanda Mendes
- 16 de jun.
- 3 min de leitura
O transtorno obsessivo-compulsivo é uma dor silenciosa. Ele faz morada na mente, mas ecoa fundo no corpo. Toma o tempo, repete gestos, confunde razão e medo. O TOC constrange a alma dentro de um ciclo que parece sem saída: pensamentos que insistem, comportamentos que tentam aliviar a angústia, e um retorno constante a esse lugar de inquietação. E no entanto, mesmo no meio desse labirinto, há caminhos que nos chamam de volta para casa.
Esse texto é um convite. Não à cura imediata, mas à escuta. Um chamado para olhar o corpo como território de reconexão. Para considerar que o yoga, especialmente o Kundalini Yoga, pode ser parte desse retorno: lento, compassivo e profundo.
Vivemos em um mundo que adoece a mente. Que exige produtividade, perfeição, controle. O TOC nasce nesse contexto e o intensifica: pensamentos obsessivos que assustam, rituais mentais ou físicos que tentam conter a ansiedade, e uma dor que poucos enxergam, mas que consome por dentro. A psiquiatria e a psicoterapia são fundamentais. Elas oferecem o mapa e o suporte. Mas há algo mais. Algo que nem sempre é dito: a importância de voltar para o corpo. De lembrar que, mesmo quando a mente está em guerra, o corpo pode ser abrigo.
O Kundalini Yoga é uma prática que une movimento, respiração, som e meditação. Ele não busca apenas silenciar a mente, ele quer transformar a forma como nos relacionamos com ela. E isso é essencial para quem convive com TOC: mais do que tentar “parar de pensar”, é preciso aprender a estar presente sem medo do que surge.
Com práticas regulares, o corpo aprende o que a mente esqueceu: que é possível habitar o agora. Que nem todo pensamento precisa ser obedecido. Que o medo não precisa ser dono da casa.
No Kundalini, respiramos profundo. Movemos a energia que estava estagnada. Tocamos lugares internos que estavam dormindo, escondidos, machucados. E aos poucos, cultivamos outra narrativa: a de que somos mais do que o transtorno, mais do que a dor, mais do que a mente que se repete.
Cuidar de si "especialmente em tempos de dor psíquica" é um ato radical de amor. É dizer: "Eu mereço estar aqui. Eu mereço me sentir em paz."
O yoga não é solução mágica. é corpo que se move. mente que observa. Quando praticamos com frequência, com presença, com verdade, algo começa a mudar.
É importante dizer: o yoga caminha junto com o tratamento clínico, não no lugar dele.
Mas ele oferece: espaço para sentir. Ferramentas para respirar. A coragem de olhar para dentro e dizer: "Estou aqui. E vou seguir."
Na minha experiência como professora de yoga, acompanhando pessoas que receberam o diagnóstico de TOC, percebo que a prática não apaga a dor, mas cria caminhos onde antes só havia repetição. Vejo corpos que chegam tensos, exaustos, tentando controlar o incontrolável... e que, pouco a pouco, começam a confiar no simples gesto de respirar.
O que observo, com reverência, é o nascimento de uma nova relação com o tempo interno. Não o tempo ansioso das obsessões, mas o tempo sagrado da escuta. A cada aula, a cada kriya, algo se desfaz: o nó, o medo, a urgência de resolver tudo agora. E em seu lugar nasce uma presença.
O yoga, nesse sentido, é mais do que ferramenta. É um lembrete diário de que é possível viver com mais suavidade. Que a cura não é um fim, mas um processo de retorno. E que, mesmo quando a mente tenta nos afastar de nós mesmos, o corpo, quando ouvido, sempre aponta o caminho de volta.
Com amor, Fernanda.




Lindo e consciente. De quem sabe o que fala. De uma profundidade acessível. Que revela, de forma simples, o invisível. Kundalini Yoga é um Caminho próspero e possível! Sat Nam!
Para um mundo onde o ser humano cada dia tem perdido mais sua capacidade de foco e aumento da ansiedade, a prática de uma atividade desse tipo, por exemplo, seria uma terapia muito mais eficaz do que qualquer medicamento.
Como todo relacionamento humano que por si só já tem a sua complexidade, o olhar para dentro, o auto conhecimento, o encontro de quem somos se faz necessário para que mudemos os padrões esperados. A viagem interior, da qual somos afastados a todo instante por diversas distrações, é o caminho mais aguardado por nossa alma. É o instante de reencontro com o que somos e não com o que querem que sejamos. Viver e aprender, sempre em busca de um bom entendimento do caminho.