Entre o rótulo e o conteúdo: yoga e a essência da caminhada

Vivemos tempos em que é fácil adotar um título. Hoje, mais do que nunca, é fácil construir uma imagem no mundo das práticas. Uma viagem à Índia, registros em templos sagrados, roupas que remetem ao Oriente, posturas de yoga acompanhadas de frases inspiradoras… e pronto: aos olhos de muitos, já se está diante de um yogi, mestre ou terapeuta. Mas, como lembra a filosofia, um nome não garante a essência daquilo que ele nomeia.

No caminho do Yoga, assim como em qualquer jornada de autoconhecimento, o rótulo não é conquista: é consequência. Ele se assenta naturalmente, como uma flor que brota de um solo cultivado com constância, disciplina (tapas), estudo profundo (svadhyaya) e entrega sincera (ishvarapranidhana).

O perigo está em confundir a embalagem com o conteúdo. Quando a busca se limita ao externo, à estética, à certificação rápida, perdemos o fio condutor que mantém a prática viva: a profundidade. É a profundidade que dá sustentação à postura, que dá verdade à palavra e que transforma conhecimento em sabedoria.

No Yoga, um título não é ponto de chegada; é apenas a marca de um trecho percorrido com presença e dedicação. E esse trecho não pode ser substituído por atalhos. É na repetição silenciosa, no contato íntimo com o corpo, na observação paciente da mente, que se lapida o ser, e não no brilho passageiro das aparências.

Em qualquer área da vida - seja no Yoga, na arte, na ciência ou em outras áreas, é preciso cuidado para que o rótulo não nos aprisione nem nos distraia. O que importa não é o que dizemos que somos, mas o que encarnamos em nossas atitudes diárias.

Talvez o convite seja este: menos esforço em sustentar uma imagem e mais entrega em sustentar a própria essência. Porque, no fim, não se trata de vestir um nome, mas de despir-se de tudo o que não é real, até que sobre apenas aquilo que somos.

Com amor,

Fernanda.