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Seu corpo revela sua história

Há um território em nós que fala antes das palavras. Um lugar que não sabe mentir. O corpo, esse mistério sempre à disposição, registra tudo o que a vida encostou, tudo o que tentamos esquecer, tudo o que ainda pulsa pedindo passagem. É estranho pensar, mas somos feitos de marcas invisíveis: o corpo é um texto que se escreve enquanto vivemos, mesmo quando não percebemos a caneta.


Quando nos olhamos por dentro, com a delicadeza que raramente oferecemos a nós mesmos, percebemos: o corpo não é uma casa onde moramos. É a nossa própria forma de existir no mundo. Ele revela o que seguramos, o que soltamos, o que tememos e até aquilo que ainda não fomos capazes de nomear.

A coluna, discreta e fiel, carrega a responsabilidade de nos manter de pé. Há colunas que se curvam para proteger um coração assustado, outras que se erguem demais na tentativa de provar força ao mundo. Cada vértebra é quase um segredo antigo, uma pequena dobra de vida.


Os pés dizem como chegamos ao chão. Alguns tocam a terra como quem pede permissão. Outros pisam firme, como quem já cansou de perder o próprio eixo. O modo como caminhamos é quase uma confissão, e quase nunca sabemos disso.


As pernas revelam o impulso escondido... avançar, conter-se, fugir, permanecer. Há músculos que foram moldados pela pressa; outros, pela renúncia. Eles contam histórias que a memória consciente perdeu, mas que o corpo jamais esquece.


O rosto… "o rosto é a janela mais franca". Ele guarda as expressões que se repetiram tantas vezes que se tornaram forma. Mandíbulas tensas, sobrancelhas em alerta, sorrisos treinados para não ferir. Há algo profundamente humano em tudo isso: o corpo tenta nos proteger o tempo todo, mesmo quando não pedimos.


Existem também aquelas estruturas internas que nos organizam sem que percebamos, formas aprendidas na infância, posturas emocionais que eram necessárias para sobreviver. O corpo moldou estratégias antes que pudéssemos escolher. E, com o tempo, essas estratégias viraram modos de ser. Mas nada disso é destino. O corpo é fiel, mas também é maleável. Ele escuta quando o ouvimos.


Respirar com presença, tocar a si mesmo sem pressa, mover-se com curiosidade, tudo isso abre frestas. O corpo, que parecia rígido, começa a se desfazer em espaço. Ele ganha coragem de mudar. Ele cria caminhos novos para a vida passar.


E então percebemos, quase com espanto delicado, que o corpo não é só memória. Ele é possibilidade.


A prática, seja qual for sua forma, é apenas uma tentativa de voltar ao que sempre esteve aqui: o corpo como eixo, como orientação, como casa primordial. Quando lhe damos atenção, ele nos devolve honestidade. A coluna encontra seu centro. O rosto desaperta. Os pés se lembram do chão. E o coração… ah, o coração agradece em silêncio.


O corpo revela a história que fomos, e anuncia a história que ainda podemos ser.


"No corpo, experimento o mundo.

Descubro que cada movimento é uma conversa,

cada músculo é memória que quer ser vista,

e cada passo é um convite para habitar o que é vivo, agora."


Com amor,

Fernanda.

 
 
 

1 comentário


sgldacpimenta
há 7 dias

Lendo vagarosamente essas palavras, senti uma intensidade tão grande e ao mesmo tempo uma delicadeza no arranjo das ideias. Sempre um material farto para reflexões, olhares, interpretações, e questionamentos internos e externos. Obrigado por sempre nos oferecer, leitores, algo que só pode vir com muito amor!!!❣️💕

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